O ÚLTIMO RIO NÃO MAPEADO NA FLORESTA AMAZÔNICA – Otacílio Lopes de Souza da Paz
O 26º presidente dos EUA (Estados Unidos da América), Theodore Roosevelt, é lembrado por grandes feitos na história, como ter articulado a construção do canal do Panamá e ter celebrado o acordo de paz na guerra russo-japonesa (1904-1905), o que lhe rendeu prêmio Nobel da Paz em 1906. Roosevelt também é lembrado por atuar na consolidação do imperialismo norte-americano pelas Américas, representado nas intervenções militares na República Dominicana e em Cuba. Após perder as eleições de 1912, Roosevelt deixou a vida pública e partiu para sua última grande aventura, cujo cenário foram as florestas da região amazônica. Esse momento da vida de Roosevelt (1913-1914) é retratado na série documental: O Hóspede Americano (HBO/2021).
O ex-presidente tinha na bagagem um histórico de defesa da conservação do patrimônio ambiental americano. Roosevelt foi ferrenho defensor da preservação de áreas naturais como o Grand Canyon, instituído como Parque Nacional em 1919. Além da topofilia em relação às paisagens naturais do seu país, existia em Roosevelt uma clara ambição em ter seu nome também enaltecido em relação a essa temática. Tais reflexões são tiradas a partir da biografia escrita por Edmund Morris em 2001, intitulada: The Rise of Theodore Roosevelt.
Na série documental: O Hóspede Americano; vemos um Roosevelt que busca aumentar suas conquistas, querendo manter sua relevância e lidando com peso da idade. A conquista agora poderia ser seu nome dado ao último rio não mapeado na região amazônica. Essa história é explorada na série citada. A expedição Roosevelt pela Floresta Amazônica teve outro personagem, esse muito importante na história brasileira: o Marechal Cândido Rondon. Rondon fez carreira militar e teve uma vida repleta de conquistas, participando na exploração e mapeamento do território brasileiro e sendo obstinado na proteção aos povos indígenas, tendo contribuído na discussão da criação do Parque Indígena do Xingu.
Por correspondências, foi formada a Expedição Geográfica-Científica Rondon-Roosevelt, cujo objetivo era descobrir se o então chamado rio da Dúvida era ou não afluente do rio Amazonas. O rio da Dúvida também era base de hipóteses sobre uma possível ligação fluvial entre a bacia amazônica e a bacia do Prata. De relevante interesse econômico e geopolítico para o Brasil, a expedição contou com as mais avançadas tecnologias disponíveis para mapeamento: homens, barcos, remos e teodolitos (lembrando, o ano era 1913). Utilizando técnicas de topografia, o rio foi mapeado percorrendo cada uma de suas curvas. Foi comprovada a conexão com o rio Amazonas e o rio foi rebatizado para rio Roosevelt. A informação cartográfica do rio Roosevelt levou 5 meses para ser gerada e subsidiou o contato com povos indígenas e o estabelecimento de rede telegráfica.
Além de uma fascinante história, a Expedição Geográfica-Científica Rondon-Roosevelt nos faz refletir sobre a importância dos avanços tecnológicos no nosso conhecimento sobre o território. O mapa que levou cinco meses e três vidas humanas para ser produzido, hoje, seria gerado em questão de minutos, com apoio de imagens de satélite. Além de nos dar uma perspectiva histórica, esse caso nos faz lembrar a importância dessa tecnologia em nossos desafios geográficos atuais, como o monitoramento do desmatamento da Amazônia. A tecnologia que temos hoje nos faz enxergar muito além, com mais detalhes e mais rápido. Resta-nos saber utilizá-la.
*Otacílio Lopes de Souza da Paz é geógrafo e doutor em Geografia. Professor da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
Espaço Aberto da REFERÊNCIA INDUSTRIAL, edição 245.