EMPRESÁRIO DO RAMO FLORESTAL MADEIREIRO
MADEIRA DO PARÁ: DESTINO EXPORTAÇÃO
Cerca de 70% da madeira do Pará é exportada para os EUA (Estados Unidos da América) e a União Europeia, cenário desafiador diante dos conflitos entre Rússia e Ucrânia. Representante do segmento no Estado, a AIMEX (Associação das Indústrias Exportadoras de Madeiras do Estado do Pará) celebra os resultados de 2022 até agora: 100% de aumento em valoração e 23% mais exportações do início do ano, até o mês de julho. Presidente da AIMEX, Leandro Rymsza detalha esse panorama e fala sobre as perspectivas para 2023 nessa entrevista exclusiva para a REVISTA REFERÊNCIA:
– As exportações de madeira do Pará subiram 23% do início do ano, até julho e 100% em valoração. A que se deve esse aumento?
De fato, existe uma diferença expressiva entre a quantidade e o valor exportado, pois no acumulado de janeiro a julho comparando com o mesmo período de 2021, houve o crescimento de 103,61% no valor (US$ FOB 253.557.690) e 23,34% na quantidade (174.791.614 Kg) exportada. Para melhor analisar temos que avaliar os preços praticados em 2020 haja vista que 2021 foi atípico para o exportador paraense devido alguns fatos que causaram o represamento de contêineres, que deixaram de ser embarcados. Entre os fatos estão a mudança e integração entre os sistemas do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e SISCOMEX (Sistema Integrado de Comércio Exterior) que dificultou a liberação da autorização de exportação, e a disponibilidade restringida de navios e contêineres devido a desestruturação da rede mundial de oferta e procura no transporte marítimo de cargas. Se compararmos com o primeiro semestre de 2020, o preço médio obtido foi de US$ 972,30/tonelada, enquanto no primeiro semestre de 2022 o preço médio foi de US$ 1.593,94/tonelada, ou seja, um aumento de 64%, bem acima da média de quase todos os insumos da construção civil, que chegou perto dos 40% em muitos países. O aumento dos valores exportados em 2022 é reflexo do aumento dos preços e de uma demanda maior que a oferta nos primeiros meses, e do início das exportações do MDF produzido no Pará. Assim, as cargas que ficaram represadas em 2021 estão sendo exportadas neste ano, apesar de ainda haver um descompasso pelos mesmos motivos que ainda persistem, mas em menor intensidade.
– Como a AIMEX avalia o cenário nacional e internacional de exportação de madeira e as perspectivas para 2023?
No mercado nacional o principal consumidor de madeira é a construção civil e a indústria de móveis. Com as medidas baixadas para controlar a inflação e com a queda no nível de desemprego, a expectativa é de melhora do consumo de madeira pela construção civil na primeira etapa com a entrega de novas unidades habitacionais, e no setor de móveis em uma segunda etapa em decorrência do aumento da produção para mobiliar as novas residências. Quanto ao mercado internacional é cedo para se avaliar um cenário para 2023, considerando que os EUA e União Europeia importam cerca de 70% da madeira paraense, mas o setor já observa uma retração do mercado em decorrência do cenário de mudança na política monetária para combater a inflação somado ao complicado quadro geopolítico mundial gerador de pressão inflacionaria consequência da guerra entre Rússia e Ucrânia.
– De que forma as questões internacionais como a guerra da Ucrânia têm impactado no mercado?
O impacto foi positivo para o setor, pois os efeitos diretos das sanções econômicas impostas levou a suspensão do comércio de madeira da Rússia, Ucrânia e Belarus, maiores fornecedores da União Europeia, enquanto perdurar a guerra. Para compensar esta situação, a União Europeia aumentou a importação de madeira de outros países, entre eles o Brasil, beneficiando o Pará que é o maior exportador brasileiro de madeira tropical.
– Quais os objetivos para a sua gestão na AIMEX?
Dar continuidade aos projetos e ações que visem fortalecer institucionalmente o setor produtivo de base florestal, além de traçar novos objetivos para o desenvolvimento da atividade madeireira no Pará e na Amazônia apoiando a produção sustentável, combater a atividade e o desmatamento ilegal, divulgar o manejo florestal e impulsionar, cada vez mais, o beneficiamento e a certificação dos nossos produtos para os associados da AIMEX, que hoje é integrado por 25 empresas.
– De que forma a sustentabilidade está interferindo positivamente na exportação de madeira?
O compromisso da AIMEX com a sustentabilidade da floresta, através das suas ações e campanhas de divulgação e valorização do manejo florestal e da madeira sustentada, tem trazido resultados positivos junto ao público consumidor interno e externo. A ação mais recente é a parceria firmada com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para conhecer em detalhes as populações de Ipês (roxo e amarelo) nas áreas de produção do Pará. Os resultados obtidos serão utilizados para subsidiar índices técnicos e seguros, que levem em conta as características de crescimento e a taxa de recuperação da espécie, para garantir sua manutenção e diversidade na floresta.
– Como a AIMEX vê o aumento da importância do ESG nesse segmento do mercado?
Vejo que o conceito ESG (meio ambiente, social e governança) é irreversível. Entretanto, a empresa tem que querer que este conceito faça parte da sua cultura, tem que ser inerente a atividade florestal sustentada. Apesar de ser um conceito novo, entendo que a empresa que já possua um certificado ambiental, onde é preciso obedecer a padrões ambientais e sociais sem colocar o lado econômico em risco, já se enquadra no conceito ESG.
Entrevista da REFERÊNCIA INDUSTRIAL, edição 245.